Capítulo 24


Confira um capítulo inteirinho... 

24 - PROCURE POR MIM E ME TRAGA CONTIGO

Edgar saiu da loja e sentou no banco do carro com o número do telefone nas mãos, seu coração batia forte, suas mãos suavam frias e a emoção tomava conta de sua alma.Pegou o telefone e discou.
- Escritório de Arquitetura Projetar, bom dia.
“Projetar? Projetar não é aquele escritório de arquitetura no andar debaixo do apartamento de dona Cecília?”
- Bom dia, qual o endereço do escritório, por gentileza? - Perguntou Edgar.
- O escritório fica na Avenida dos Navegantes, número 694, no centro de Verona.
- É... Eu pretendo fazer uma reforma no meu consultório e me indicaram o escritório de vocês. Com quem posso conversar a respeito?
- Ah sim! O senhor pode falar com nossa arquiteta, Catarina, ela é especialista em decorações.
“Catarina... Arquiteta?”
- Obri... Obrigado, na próxima semana irei ao escritório.
Edgar desligou o telefone, reclinou o banco do carro e ficou por um tempo com os olhos fechados.
“Arquiteta... Escritório Projetar... Ela estava do meu lado esse tempo todo... Apenas duas quadras de distância... Mas o que Catarina veio fazer em Verona? Arquitetura e rosas? Confuso... Eu sei que ela gostava muito de flores, quantas vezes eu a vi ajudar sua mãe a cuidar das plantas... Mas eu sempre pensei que Catarina escolheria algo no ramo da biologia, ela tinha aquele sonho maluco de ir para o oceano... E será que ela se casou? Tem filhos? Será que até mesmo esse escritório é do marido dela? Nossa! O que eu vou fazer agora? Queria vê-la... Queria tocá-la... Mas não posso chegar assim em sua vida, ainda tenho que resolver meu problema com Jorge e, além disso, não sou do tipo que valha a pena rever, ainda mais com tantos problemas, não posso envolvê-la em tantos conflitos. Edgar, o que você vai fazer da sua vida?”
Edgar começou a dirigir... Andava sem saber para onde e para quê. Seu coração clamava a presença de Catarina e sua razão negava o tempo todo. Uma guerra estava travada, a razão e o coração. As ruas eram sem cores aos olhos de Edgar e seus pensamentos corriam na velocidade do carro, a 100 Km/h.
“Não posso mais ficar aqui em Verona e nem voltar pra Sete Lagos.”
Voltava para o hotel, e com os vidros do carro escuros e fechados passou em frente ao escritório de Catarina bem devagar, mas não a viu. Catarina estava atendendo a uma cliente e da janela da sala viu o carro passar.
“Aquele carro, o mesmo que eu vi na praça, ele passou tão devagar aqui em frente. Que estranho... Mas sinto a mesma dor no peito... Estranho... o que será isso?”
- Catarina... Você está bem? - Perguntou a cliente.
- Desculpa a distração... Mas, voltando ao nosso assunto, acho que essa cor ficaria ótima na sala principal. – Respondeu Catarina mostrando o catálogo para a cliente.
Catarina terminou o atendimento, saiu do escritório e resolveu passar em frente ao hotel para ver se aquele carro estaria por lá. Passou bem devagar, mas da rua não conseguia ver a garagem, então resolveu entrar e pedir alguma informação. Quando entrou no hotel um dos funcionários na recepção entregou uma chave para o recepcionista.
- Aqui está a chave do carro do tal Edgar... A propósito, ele me pediu para achar alguém de minha confiança para mandar lavar seu carro. Os funcionários ainda não tinham notado a presença de Catarina.
- Esse tal Edgar é estranho, não é?
- Sim... Ele é sinistro... Mas me deu uma boa grana
pra eu providenciar esse “servicinho”, acho que vai sobrar um trocado bom pro fim de semana.
- Opa! Uma senhora na recepção... Vou atendê-la.
Catarina ficou confusa, não sabia de que “Edgar” estavam falando, mas seu coração se agitava no peito ao ouvir aquela conversa.
“O que eu faço? Será que é o Ed? Seria o destino tentando brincar com minha cara?”
- Bom dia... No que posso ajudá-la? – perguntou o recepcionista.
“E se não for? Que vergonha eu vou passar... Vão achar que sou louca... Ah, vou arriscar tudo... é isso que vou  fazer... quero sair dessa angústia.”
- Quero que avise ao senhor Edgar que estou esperando aqui na recepção.
- Perfeitamente. Como é o nome da senhora, por gentileza?
- Meu nome é...
De repente Rebeca puxou o braço de Catarina e perguntou:
- Amiga... O que está fazendo aqui... No hotel?
- Nada... Não estou fazendo nada... Vamos embora... Rápido... Vamos... Eu devo estar ficando louca. – Respondeu baixinho e olhou para o recepcionista dizendo: desculpe, mudei de ideia, volto mais tarde, tenho que resolver outra
coisa agora... Vamos, Rebeca.
Catarina saiu do hotel segurando no braço de Rebeca.
- Catarina, o que está acontecendo, amiga?
- Ai! Quase fiz uma loucura... Não devo estar no meu juízo perfeito... O Ed ainda vai me deixar louca de verdade.
- Ed? Loucura? O que é isso, Caty? Conta tudo... Vai... Estou esperando. – E entraram no carro de Rebeca.
- Primeiro quero saber o que a senhora veio fazer no hotel - Disse Catarina.
- Já vem você querendo reverter as perguntas... Eu quero saber isso de você... Mas, já te respondendo, fui até o hotel que o Josef está hospedado porque íamos sair juntos, aí te vi lá e levei até um susto.
- Que Josef?
- Uma longa história, amiga. Mas, enfim, resumindo, é um italiano lindo e perfeito que eu conheci. Ele é um dos sócios da indústria têxtil que eu e Pedro estamos projetando. Mas eu quero saber o que você estava fazendo naquele hotel. E que assunto é esse de Ed?
- Amiga, acho que estou ficando maluca... Eu tenho sentido a presença dele, sabe, parece muito real... E outro dia eu vi um carro saindo daquele hotel e passou bem devagar perto de mim, meu coração acelerou e comecei a sentir o Ed... O perfume dele... Então, hoje esse carro passou bem devagar em frente ao escritório... Sei lá, parece loucura, mas surgiu um sentimento que me sufocava a todo o instante, aí fui ao hotel para saber quem era o homem... Além disso, quando eu entrei na recepção escutei dois funcionários falando de um hóspede que se chamava Edgar. Rebeca, eu estou ficando doida... Ajuda-me, amiga!
- Catarina, francamente amiga, esquece esse homem. Tudo isso pode ser fantasia, não perca mais tempo com o Edgar.
- Sim, pode ser fantasia, talvez seja, mas e se não for? E se o destino estiver a favor do nosso amor?
- Que amor, Catarina? Amiga, foi apenas coisa de criança, de adolescentes, seis anos se passaram, que sentimento desgraçado é esse que você tem no peito,
amiga?
Catarina chorou.
- É amor... Amor... Esse sentimento desgraçado é amor... Eu amo Edgar... Eu tentei... Eu tento todos os dias não pensar nele, não se lembrar dele, mas ele é a primeira coisa que vem a minha mente todas as manhãs. Estou me esforçando pra ficar com Pedro e até gosto dele, mas queria que tudo tivesse sido simples, queria estar com Ed, viver com ele, poderíamos morar em Marazul, até mesmo na
fazenda do papai... Eu queria acordar de manhã e fazer o café com pouco açúcar, que era como ele gostava... Teríamos filhos... Dois... Verônica e Fellipe. Verônica teria os cabelos do pai e Fellipe o seu sorriso tímido. Era isso, apenas
isso que eu queria pra minha vida.
Rebeca abraçou Catarina, que desabafava tudo que havia guardado durante todos esses anos.
- Eu entendo amiga... Olha, não chore, agora você é uma arquiteta de sucesso, tem sua rosa, “Pétalas de Sangue”, que está vendendo muito, a senhora está ficando famosa com isso! Tem o Pedro que te ama e que faz tudo por você. Tem seu pai que te ajuda a realizar seus sonhos e tem a mim, uma amiga chata, mas que te ama também.
- Eu sei, eu sei Rebeca, eu também te amo amiga.  Talvez eu esteja sendo ingrata, mas sempre vou amar o Edgar.
- Vamos fazer assim... Vou pedir a Josef para investigar quem é esse Edgar que está hospedado no hotel. Josef vai ficar na cidade mais uma semana, então dá tempo de saber alguma coisa. Mas agora fica calma e vamos pra casa.
- Está bem... Vamos pra casa.
Catarina e Rebeca foram embora. Naquela noite Rebeca saiu com Josef, mas antes, ligou para Pedro pedindo que ele ligasse para Catarina. Rebeca cumpriu com o prometido e pediu para que Josef observasse quem era o Edgar que estava no mesmo hotel. Na manhã do dia seguinte, Edgar foi até a recepção do hotel e pediu que lhe trouxessem o carro.
- Senhor Edgar, o carro está pronto. Ontem mesmo providenciei o que o senhor pediu. Garanto que ele está mais limpo que nunca. – Disse o funcionário do hotel.
- Obrigado!
- Senhor Edgar, ontem veio uma senhora lhe procurar aqui na recepção, mas ela saiu antes que eu interfonasse para seu quarto.
- Sim, e quem era?
- Ela não disse o nome, era uma moça jovem, mas saiu às pressas.
- Da próxima vez não deixe que uma visita minha saia sem que você saiba o nome.
         Edgar disse essas palavras e saiu.
“Quem será? Victória? Mas ela não sabe que estou aqui. E se fosse ela, aquela maluca não iria embora assim. Será que é Eloisa? Só ela sabe que estou aqui. Quem será?”
Edgar foi até o consultório de Eloisa, mas ela estava de plantão no hospital municipal. Então voltou e parou o carro próximo ao escritório de Catarina.
“Catarina... Acho que não vou poder abraçá-la, mas pelo menos eu quero ver seu rosto novamente, nem que seja de longe, nem que seja pela última vez.”
Eram nove horas e Edgar, sentado dentro do carro, esperava atentamente para ver Catarina sair ou entrar no escritório. Uma hora depois e ele não tinha visto nenhum
movimento, ligou para o escritório:
- Bom dia, Catarina Vogel se encontra?
- Sim, quem deseja falar com ela? – Perguntou a secretária.
“O que eu digo? Não posso dizer meu nome...”
- Max... Diga que é Max... Quero falar com ela a respeito de uma obra.
- Sim, senhor Max, estou transferindo sua ligação.
Catarina atendeu ao telefone:
- Alô, Bom dia, senhor Max.
Edgar não falava nada, apenas ouvia a voz de Catarina, que era doce.
- Senhor Max? Alô... Alô... Acho que caiu a ligação – Desligou o telefone.
“Doce, suave, acalma minha alma sua voz, Catarina. Como eu queria sair daqui agora e correr ao seu encontro, como eu queria sentir o calor do seu abraço e do seu beijo... Um beijo... um único beijo.”
Catarina ficou pensativa, foi até a janela da sala e abriu a persiana, o céu azul pairava sobre os arranha-céus, na rua movimentada as pessoas iam e vinham, parecendo estar sem direção. Olhou para a praça, viu o carro de Edgar parado e seu vulto a intrigou.
“Aquele carro... Outra vez estou vendo o vulto de alguém dentro dele... Quem será aquele homem? Por que eu sinto esse aperto e essa sensação de desespero quando o vejo? Por quê? Sinto-me atraída. Não vou esperar mais, vou
até lá, e vai ser agora.”
Catarina saiu de sua sala e chegou à recepção, parecia estar mesmo decidida a fazer aquilo, abriu a porta da frente do escritório e olhou fixamente para o carro de Edgar. Com passos fortes atravessou a rua. Edgar, ao vê-la, ainda que fosse de longe, ficou emocionado.
         “Catarina, a minha Catarina! Linda, continua linda, sua pele branca e pálida ao sol parece uma miragem. Ela não mudou nada, ainda tem rosto de menina. Seus cabelos ruivos... Era ela, tenho certeza que era ela no restaurante outro dia... eu te amo, Catarina! Essas lágrimas são de felicidade, que há muito tempo eu não sentia igual. Mas, espera aí, ela vem em minha direção? É isso? Não quero que me veja.”
Catarina atravessou a rua. Na calçada da praça caminhava firme em direção a Edgar. Apenas 30 metros os separavam.
“Eu ainda não consigo ver o rosto dele... Mas, por que sinto que meu coração vai sair do peito? Por que lágrimas caem dos meus olhos? Por que ele não sai do carro? Por quê?”
- Catarina! Catarina! – Gritou Pedro parando o carro perto dela.
Ela parou, olhou para trás e viu Pedro saindo do carro.
Limpou os olhos e perguntou assustada:
- Pedro? O que está fazendo aqui?
- Nossa... Onde estava indo assim com tanta pressa? Chamei você várias vezes e não me ouviu – Pedro a abraçou e a beijou.
Catarina não conseguiu responder e quando olhou para o outro lado da praça o carro não estava mais lá.
“O carro... ele se foi...”
Edgar saiu desesperado acelerando o carro.
“Ela tem compromisso... Ela seguiu em frente... não vou estragar isso em sua vida. Talvez ela esteja feliz com esse homem, certamente ele a ama, eu vou embora, não posso invadir sua vida assim, ainda mais com tantos problemas.”
Edgar chegou à recepção do hotel e pediu para fechar sua conta, sairia da cidade ainda naquela tarde.
- Boa tarde! Já vai deixar essa cidade tão bonita? – Perguntou Josef, que estava sentado na recepção.
- Boa tarde! Vou sim, acho que já fiquei por aqui mais do que deveria.
- Prazer, sou Josef Sperandio.
- Edgar Scalforne. Desculpe-me pela grosseria, mas tenho que ir para o quarto arrumar minha bagagem.
- Sim, sim... Você vai para qual cidade? Desculpe minha curiosidade, mas eu não conheço nada nessa região, estou no país há poucos dias.
- Estou indo para Sete Lagos... Na verdade, nem sei ao certo pra onde vou.
- Tem jeito de homem aventureiro então?
- O que é isso! Aventureiro, eu? Minha mãe mora em Sete Lagos, uma cidade muito bonita, tem muitos haras e fazendas, vale a pena você conhecer.
- Fica muito longe daqui? Você vai de avião?
- É bem longe. Eu vim de carro, mas acho que voltarei de avião, não ando com cabeça para dirigir.
- Avião é muito mais confortável. Mas não quero te atrapalhar... Uma boa viagem, Edgar.
- Obrigado, Josef.
Edgar subiu para o quarto para arrumar as malas e
Josef ligou para Rebeca:
- Oi meu amor, acabei de investigar aquele tal de Edgar que você me pediu, e já vou adiantando que não vai sair barato esse favor.
- Pagarei ainda hoje, meu amor... Mas, me diga o que
descobriu.
- O nome dele é Edgar Scalforne, sua mãe mora numa cidade chamada Sete Lagos, ele está de partida e já está no quarto arrumando as malas, em breve vai para o aeroporto.
- Nossa! Tenho que desligar, amor... Depois te conto o que está acontecendo.
Rebeca ficou surpresa, as intuições de Catarina estavam certas.
“O que fazer? Ai, ai, como Catarina vai receber essa notícia? E Pedro está aqui... o que eu faço?”
Rebeca interfonou para a sala de Catarina e pediu que viesse sozinha em sua sala. Catarina pediu licença a Pedro e foi depressa.
- O que foi amiga? Que mistério é esse que Pedro não pode ouvir? Rebeca, é sobre o homem do carro? – Catarina sorriu e seus olhos deixavam cair lágrimas - Era ele, não era? Era Edgar... Era o Ed, Rebeca? Era o Ed?
- Calma Caty... Calma... Era! Era o Edgar!
Catarina ficou parada, sentou-se no sofá e por uns 10 segundos não disse nada, depois sorriu meio que abobalhada com o que ouviu, abraçou Rebeca e disse:
- Eu sabia que era ele, ele está vivo, está aqui, estivemos tão perto! Ele veio me procurar, veio me buscar. Durante todos esses dias esteve me observando. Ele não me esqueceu... Ele não me esqueceu, amiga! Ele viu Pedro me beijando na praça e foi por isso que foi embora. E agora, Rebeca? Tenho que encontrá-lo...
- Não sei se vai ser possível porque ele está indo pra Sete Lagos, nessa hora ele já deve estar a caminho do aeroporto. O que você vai fazer Catarina? E Pedro?
- Eu tenho que ver o Ed... Não posso perdê-lo de vista de novo... Eu o amo, Rebeca!
- Ed? O Edgar? O que está acontecendo, Catarina? - Perguntou Pedro, entrando na sala de Rebeca.
- Pedro, Ed está vivo e está aqui na cidade, mas está indo embora e eu preciso encontrá-lo. Desculpe-me Pedro, ele apareceu e está a minha procura.
- Calma Catarina... Você está trêmula... Calma!
- Desculpa Pedro, mas eu não posso...
Pedro abraçou-a fortemente com os olhos cheios de lágrimas. Seu coração estava apertado, sabia que estava perdendo o pouco que tinha de Catarina.
- Eu te amo, Catarina! Nunca duvide do meu amor por você. Por te amar demais, e mesmo sem entender ao certo o que está acontecendo, não vou e nem posso te impedir de ver Edgar, afinal, eu prometi!
- Pedro... – Disse Catarina, chorando abraçada a ele. Um silêncio se formou dentro da sala.
- Vou voltar pra casa, Catarina. Não posso te impedir, mas também não vou ficar aqui pra ver isso. Até mais!
Pedro pegou sua maleta e saiu desnorteado.
- Pedro... Pedro! Desculpa Pedro!
- Amiga, o que está feito, está feito, agora vamos procurar o Ed... Rápido, vamos com meu carro direto pro aeroporto.
- Sim... Vamos.